domingo, 9 de setembro de 2007

A fera, o fera - Henri Matisse



"M
atisse segue uma trajetória ideal: começa com uma pintura de velho e termina com uma de jovem"
- Pierre Alechinsky (Pintor e gravurista)



Este é um dos diversos retratos que Matisse pintou de sua esposa. O dinamismo dos arabescos se equilibra com a serenidade do rosto e das mãos
A senhora Matisse: madras vermelho (1907)
The Barnes Foundation, Pennsylvania

No ínico do século XX, havia em Paris dois grandes eventos de exposição: O Salão dos Independentes, organizado na primavera, e o Salão de Outono. Em 1905, durante a apresentação deste último, um crítico de arte sentenciou: "A Sala 7 foi escolhida para a aberração pictórica, a loucura das cores e as fantasias difíceis de explicar". Outro crítico, Louis Vauxcelles, escandalizado com o que viu, chamou os artistas que lá expunham de fauves (feras), em virtude da intensidade com que usavam as cores puras, sem misturá-las ou matizá-las. Entre obras de Derain, Vlanminck, Marquet, sobressaíam os quadros do francês Henri Matisse (1869-1954). A partir daí, o nome de Matisse ficou totalmente associado ao fauvismo*, um dos movimentos plásticos de vanguarda que mais ricamente incidiu na arte do século XX.

Os críticos acreditaram que estavam diante de um fato inédito. Porém, a "fera" que acabara de despertar naquele Salão de Outono vinha rugindo há tempos contra o realismo herdado do neoclassicismo e do romantismo. As feras, que incluiam, Cézanne, Gauguin e VanGogh não se dispuseram a servir nada mais do que a pintura. Matisse e seus amigos da Sala 7 também não.


O ateliê vermelho (1911)
Óleo sobre tela - MoMa /NY


Poucos quadros como este Ícaro, em guache recortado, feito por Matisse para o livro Jazz de 1947, sintetizam sua arte: a liberdade humana, o céu entre estrelas no azul mais puro do espaço.

Guache recortado (1952)
Musée Nacional d´Arte Moderne / Paris
O obra acima, é um exemplo de como Matisse otimizou técnica de recorte: ao invés de recortar a folha, ação que costumava gerar formas angulosas, passou a correr o fio da tesoura entreaberta e bem afiada em um movimento contínuo, gerando fluidez e delicadeza.

"Para mim, o tema de um quadro e o fundo dele têm o mesmo valor ou, para ser mais claro, nenhum ponto é mais importante que outro. O que vale é a composição, o padrão geral. Um quadro é feito pela combinação de superfícies diferentementes coloridas" - Matisse (1905).


No alto, Matisse recorta seus famosos guaches em 1948. Acima, a fotografia tirada por Robert Capa, em 1950, mostra o artista trabalhando nos desenhos de Capela de Vence (abaixo), onde ele dedicou suas últimas criações.



Aprofundar-se cada vez mais nessa afirmação foi o grande objetivo de Matisse. Para isso, dedicou-se a estudar o uso das cores planas, realizou experimentos com as cores complementares e , especialmente, interessou-se pela luz. Arriscou a reformular a estruturação cromática, não hesitou em converter a pincelada em objeto de experimentação. Assim, empenhou-se na libertação do espaço, ultrapassando limites , preenchendo espaços até antes impensáveis. Dos pintores fauvistas, que exploraram o sensualismo das cores fortes, ele foi o único a evoluir para o equilíbrio entre a cor e o traço em composições planas, sem profundidade.


A Dança(1909-1910)
Hermitage, São Petersburgo


Arte no cardápio
Com o tempo, Matisse se tornou um pintor popular. Era reconhecido pelos mais diversos públicos, diante dos quais, circulava facilmente e com total simplicidade. No restaurante Les Templiers, em Collioure, ofereceram a ele o cardápio e pediram que deixasse seu autógrafo. O artista não apenas assinou como esboçou diversos desenhos.

" Como se pode fazer arte sem paixão? O artista pode dominar a arte mais ou menos, mas é a paixão que motiva sua obra. Dizem que toda minha arte provém da inteligência. Não é verdade: tudo que fiz foi por paixão." - H. Matisse

*Princípios deste movimento artístico:
· Criar, em arte, não tem relação com o intelecto e nem com sentimentos.
· Criar é seguir os impulsos do instinto, as sensações primárias.
· A cor pura deve ser exaltada.
·A
s linhas e as cores devem nascer impulsivamente e traduzir as sensações elementares, no mesmo estado de graça das crianças e dos selvagens.

Características da pintura:

· Pinceladas fortes, espontâneas e definitivas;
· Ausência de ar livre;
· Colorido brutal, pretendendo a sensação física da cor que é subjetiva, não correspondendo à realidade;
· Uso exclusivo das cores puras, como saem das bisnagas;
· Pintura por manchas largas, formando grandes planos;